FÉ - TEMA 1

A melhor definição de fé é confiança. Confiança é depender de outro.

Talvez tenha ouvido a história do malabarista que andava sobre a corda bamba por cima das Quedas de Niágara. Após ter deixado multidões embevecidas com seu feito, perguntou: "Quantos de vocês acreditam que desta vez eu posso atravessar novamente sobre a corda empurrando um carrinho de mão com alguém sentado dentro?"

A multidão aplaudia. Todos estavam certos de que ele poderia fazê-lo. Então, continuou: "Quem quer ser o voluntário e entrar no carrinho de mão?'' Fez-se um profundo silêncio! O auditório havia acabado de ser lembrado da diferença vital entre crença e confiança! Uma coisa é crer que o carrinho atravessaria com toda segurança o abismo. Outra, bem diversa, é pôr a própria vida numa corda bamba.

S. Tiago 2:19 estabelece a mesma distinção: "Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem, e tremem.'' A fim de desenvolver fé salvadora, você precisa mais do que assentimento mental. Até mesmo os demônios têm crença desse nível; e tremem, em resultado disso. Os demônios crêem – mas não confiam. E essa é a diferença crucial.

Três palavras descrevem a relação de dependência do cristão para com Deus: fé, crença, e confiança. No uso moderno, crença muitas vezes traz consigo a idéia de mero assentimento mental. Fé é, ás vezes, confundida com pensamento positivo. Mas a palavra confiança provavelmente seja a que mais se aproxime em descrever a dependência bíblica de Deus. Onde quer que encontre a palavra crença ou fé na Escritura, pode substituir pela palavra confiança, e talvez obtenha uma nova dimensão de palavras familiares. Por exemplo, "Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo." (Atos 16:31) poderia ser assim redigido: "Confia no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo."

Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 389 declara: "A fé abrange não só a crença mas também a confiança.''

E Educação, página 253: ''A fé é a confiança em Deus."

Fé é dependência de Outro. E, provavelmente, a palavra mais próxima de submissão encontrada na Bíblia; pois traz consigo a idéia de entregar a vida ao controle de Deus.

Os grandes empreendedores não gostam da idéia de dependência. Pode parecer assustador pensar em colocar-se sob o controle de outrem. Pode ser um golpe ao orgulho e auto-suficiência humanos, permitir que algum outro dite as regras. Mas "sem fé é impossível agradar a Deus'' (Hebreus 11:6) – ou, "sem confiança é impossível agradar a Deus". Somente quando renunciamos a nossa própria vontade e modo de pensar, e confiamos totalmente em Seu poder para salvar, Deus pode realizar Seu propósito em nossa vida.



Assim como as crianças trazem seus brinquedos quebrados,

Com lágrimas, para que os consertemos,

Levei meus sonhos despedaçados para Deus

Porque Ele era o meu Amigo.



Mas então, em vez de deixá-Lo

Em paz, a trabalhar sozinho,

Fiquei por perto, procurando ajudar

Por maneiras que me eram próprias.



Finalmente, os tomei de volta, e exclamei:

"Como podes ser tão vagaroso?"

"Meu filho", disse Ele, "que podia Eu fazer?

Tu nunca os soltaste."



A fé ou confiança genuína é totalmente dependente, totalmente vulnerável. O raciocínio, ou entendimento, ou lógica humana podem ir até certo ponto, e então temos que partir para aquilo que não pode ser provado, exceto por experiência. Os teólogos, se têm referido, às vezes, a esta verdade, como o ''salto da fé".

Mas confiança em Deus não é um salto no escuro. Ele nos tem dado evidências suficientes em que basear nossa confiança nEle. Em S. Mateus 15, encontramos a história da mulher siro-fenícia. Ela veio em busca de Jesus, que havia percorrido 80 quilômetros além de Seu roteiro a fim de que sua busca fosse recompensada. Encontrá-Lo caminhando pelas poeirentas estradas de seu próprio pais, deve tê-la encorajado a crer. Mas quando Lhe levou o seu pedido, Ele parecia ignorá-la. Ela persistiu, e Ele parecia insultá-la. Contudo, havia evidência bastante em Seu olhar, tom de voz e maneira de agir, para encorajá-la a confiar nEle, a despeito das aparências; e ela persistiu, até que sua fé foi recompensada. A resposta veio ao continuar ela confiando nEle.



FÉ - TEMA 2

Conhecer a Deus resulta em confiar em Deus. Se você não O conhece, não irá confiar nEle. Se você não confia nEle, então não O conhece.
Duas coisas apenas são necessárias para se confiar em alguém. Primeiro, você deve encontrar alguém que seja digno de confiança. Segundo, você precisa conhecê-lo. O oposto disso é também verdadeiro. A fim de não confiar em alguém, tudo quanta precisa fazer é encontrar quem não seja digno de confiança – e então passar a conhecê-lo.

Certo verão, quando estava no curso ginasial, trabalhei num posto de gasolina, e aprendi a desconfiar de postos de gasolina! As pessoas com as quais eu trabalhava naquele verão, tinham muitas maneiras de se aproveitar de clientes desatentos. Uma delas era torcer a correia do ventilador até quebrá-la – e então a levavam ao cliente, dizendo: "Veja, descobri que sua correia de ventilador está quebrada. Foi sorte ter verificado isso, não?" Então ficavam com a comissão pela venda da correia de ventilador nova. Outra, era "trocar" o óleo de um carro, enchendo o cárter com óleo retirado de outro carro, e assim ganhar o dobro pelo óleo. Não eram dignos de confiança, e eu os fiquei conhecendo. Desde esse tempo, tenho desconfiado de serventes de postos de gasolina.

Certa vez, parei num posto de gasolina para abastecer. O homem chegou até minha janela, com uma correia de ventilador na mão. Eu disse: "Você a quebrou, agora trate de repô-la." Ele ficou chocado. "Que quer dizer?" Expliquei: "Já trabalhei em posto de gasolina." "Oh!", disse ele. E substituiu minha correia de ventilador sem cobrar nada.

Agora, é inteiramente possível que em alguma parte do mundo haja serventes de posto de gasolina honestos. Mas, a fim de confiar num deles, novamente, teria que conhecê-lo bem. Um relacionamento casual não seria suficiente. Ele não só teria de ser digno de confiança, mas eu teria que tomar tempo bastante para conhecê-lo bem e nele confiar.

A Bíblia declara que Deus é digno de confiança. Mas você jamais confiará realmente nEle até que O conheça por você mesmo.

Já fizemos notar o pensamento profundo de O Desejado de Todas as Nações, pág. 668: "Quando conhecermos a Deus como nos é dado o privilégio de O conhecer, nossa vida será de contínua obediência."

Acrescente-se a isso uma linha de Caminho a Cristo, pág. 61:"A obediência é fruto da fé." Se você precisa conhecer a Deus a fim de obedecer, e se obediência deriva da fé, então você precisa conhecer a Deus a fim de ter fé ou de confiar nEle.

Às vezes, esquecemo-nos dessa verdade, e nos envolvemos no combate ao pecado e ao demônio. Tentamos a muito custo obedecer, e falhamos e fracassamos vez após vez. É verdade que somos chamados para um combate – mas é essencial tornar-nos envolvidos no combate certo. "Combate o bom combate da fé'', declara I Timóteo 6:12. Como combatemos o bom combate da fé? Exercendo o esforço necessário para chegar a conhecer a Deus de modo que nEle confiemos.

Como chegamos a conhecer a Deus? Do mesmo modo como chegamos a conhecer qualquer outra pessoa. A fim de nos relacionarmos com alguém, são necessárias três coisas. Primeiro, falar com ela. Segundo, ouvi-la ao lhe dirigir a palavra. E, terceiro, ir a lugares e realizar coisas junto com ela. Estes são os ingredientes da comunicação.



FÉ - TEMA 3

Fé é um fruto do Espírito, não um fruto da pessoa. Não é algo em que a gente trabalhe ou que a gente desenvolva.



Se estiver interessado em produzir seja o que for, de maçãs a pepinos, por onde começará? Já trabalhou num jardim ou numa horta? Sabe como se faz? Não é necessário ser um especialista em agricultura para reconhecer que certas coisas "causam" e certas outras coisas "resultam". E se desejar ter êxito em seu jardim ou horta, não se empenhará em resultados não é mesmo?

Que bênção não seria, se pudéssemos ver a diferença entre causa e resultado de modo tão claro em nossa mente, no que tange a crescimento espiritual! Quantos de nós despendemos anos e grandes esforços, tentando produzir resultados – trabalhando sobre resultados! Paulo alista os frutos vistos na vida cristã. E note que são frutos do Espírito, não da pessoa: "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei." Gálatas 5:22 e 23.

A Escritura sempre apresenta a fé como um fruto, ou dom, ou resultado. Nunca é nosso trabalho.

Romanos 12:3 declara que Deus deu a cada um a medida da fé. Romanos 10:17 diz que a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus. A fé sempre vem em resultado de algo mais. Você não pode trabalhar para produzi-la. Você não age sobre os frutos. Antes, empenha-se naquilo que produz o fruto. Você não trabalha por um dom. Em vez disso, empenha-se em ir à presença do Doador e aceita o dom concedido.

"Homem algum pode criar fé. O Espírito que opera na mente humana e a ilumina produz fé em I)eus." – Comentários de Ellen G. White, SDA Bible Commentary, vol. 7, pág. 940.

E fácil confundir fé com sentimento, tentar pôr a fé em operação, fazendo entrar em ação o sentimento. Quando acha mais fácil crer que Deus responderá suas orações: quando crê que Ele o fará, ou quando está seguro de que o não fará? Quando é que tem mais fé na promessa de Deus em perdoar os pecados que Lhe haja confessado: quando se sente perdoado, ou quando se sente esquecido? Sua fé parece firme quando as coisas estão correndo às mil maravilhas, ou quando o teto afundou e você está defrontando provas e aflição?

É-nos dito que "sentimento não é o mesmo que fé; são duas coisas distintas". – Primeiros Escritos, pág. 72. E este se torna outro argumento por que jamais podemos trabalhar nossa fé. E possível trabalhar nossos sentimentos. Você pode pôr para tocar o tipo adequado de música; pode deixar-se levar pela eloquência de alguém que esteja tentando despertar algum entusiasmo; pode ser afetado pelas luzes certas ou pela disposição de pessoas ao seu redor. Por trabalhar com as multidões da maneira precisa, é possível despertar tremendos sentimentos. Mas após as luzes se apagarem e as pessoas retornarem para casa, e você ser deixado sozinho, o que sucede? Pode terminar sentindo-se pior do que antes. Já lhe ocorreu isso alguma vez? Milhões em nosso mundo hoje vivem de um pique emocional para outro, gastando sua vitalidade numa louca busca de algo que lhes soerga o espírito e os ajude a esquecer que a última coisa que tentaram não durou muito.

O inimigo tem controlado o mundo com tanto êxito, nessa base, que ainda emprega isto como uma de suas melhores ferramentas dentro da igreja. Quando alguém toma a decisão de ir a Jesus para encontrar a felicidade duradoura que Ele tem para oferecer, o inimigo se aproxima e diz: "Você quer ir a Jesus? Bem, é melhor então arruinar sua vida para que Ele possa aceitá-lo." Ele faz com que essa pessoa tente produzir os resultados, e a mantém afastada de Jesus, enquanto esta tenta em vão tornar-se justa por conta própria. Mas então ouve sobre justificação pela fé. Parece hom. E ao decidir aceitá-la, o inimigo chega com outro estratagema, dizendo: "É verdade, a justificação vem pela fé. Não opere sua justiça; opere sua fé." E isso pode ser simplesmente outra barreira entre o pecador e o Salvador.

A verdade é que você não opera sua justiça – nem sua fé. Ambas as coisas são dons. Ambas são frutos. Ambas ocorrem como resultado de conhecer a Jesus. E conhecer a Jesus vem em resultado de passar tempo em comunhão e íntima relação com Ele. Se for a Ele, o Senhor lhe dará a fé genuína de que carece. O primeiro subproduto de buscar a Jesus é fé genuína. A justiça vem em segundo lugar.



FÉ - TEMA 4

Pensamento positivo não produz fé genuína, mas a fé produzirá pensamento positivo.
Huss e Jerônimo foram heróis nos anos da Reforma. Trabalharam na Boêmia, e o testemunho deles precedeu ao de Lutero na Alemanha. Os escritos de Wycliffe influenciaram a ambos. Não muito depois que João Huss começou a pregar o evangelho com grande poder, teve a companhia de Jerônimo, que estivera na Inglaterra.

Ao se tornar mais conhecida a pregação de João Huss, foi ele convocado a ir a Roma, prestar contas de seus ensinos. Huss obteve um salvo-conduto, mas, após sua audiência, foi lançado na prisão da mesma forma. Tendo recebido oportunidade de retratar-se, recusou fazê-lo, e após se passarem muitas semanas, foi queimado na estaca. Seus perseguidores espalharam-lhe as cinzas sobre o Reno e esperavam, em vão, que lhe tivessem silenciado a voz.

Quando Jerônimo ouviu que seu amigo corria perigo, apressou-se a ir a Roma, sem esperar sequer pelo salvo-conduto, que se revelara tão ineficaz no caso de Huss. Ao chegar, foi também lançado na prisão, e ali mantido por muitos meses. Sua coragem vacilou, e aceitou a oportunidade para retratação.

Descobriu então, uma coisa impressionante. Há algo pior do que ser queimado na estaca! Trata-se de não ser queimado na estaca – viver com o remorso de ter negado o Senhor. Jerônimo retratou-se de sua retratação, e partiu cantando para a morte. Quando o carrasco se aproximou dele por trás, para acender a fogueira, bradou: "Venha com ousadia para minha frente; aplique o fogo perante minha face. Se eu tivesse temor não estaria aqui."

A história de Huss e Jerônimo tem muito a nos ensinar sobre fé genuína. Há uma pseudofé, popular hoje em dia, tanto no mundo quanto na igreja, que não é fé de maneira alguma, mas pensamento positivo. Leva-o a crer que a fé consiste meramente em crer que aquilo que você deseja vai acontecer, que se puder encontrar alguma coisa nas Escrituras que se pareça com uma promessa, pode reclamá-la como sua. Frank Sinatra canta sobre esse "pensamento positivo" em sua música "I Did it My Way" [Fi-lo a meu modo]. Mesmo dentro de nossa igreja você pode encontrar a versão de fé "pensamento positivo" proclamando: "Você pode consegui-lo."

Mas a posição bíblica é de que nem toda promessa é para você neste tempo e sob estas circunstâncias. Se reivindicar promessas é tudo de que precisamos para libertação, então Huss e Jerônimo fracassaram fragorosamente. Isaías 43:2 tem uma maravilhosa promessa que poderiam ter reivindicado: "Quando passares pelas águas eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti." Mas Huss e Jerônimo foram para a estaca – não porque deixassem de exercer fé, mas devido a sua fé.

A fé ainda confia em Deus mesmo quando as coisas não se passam do modo como gostaríamos. E fácil confiar em Deus quando a vida marcha suavemente. O teste real da fé se dá quando nossas orações parece não terem resposta. "O Senhor deseja que confieis em Seu amor e misericórdia em meio a nuvens e escuridão, tanto quanto sob o brilho do sol." – Testimonies, vol. 2, pág. 274.

Em nossa humanidade, não podemos evitar de preferir a história de Daniel na cova dos leões ao relato de João Batista. Achamos difícil de compreender quando lemos que "entre todos os dons que o Céu pode conceder aos homens, a comunhão com Cristo em Seus sofrimentos é o que traz maior peso de esperança e mais elevada honra." – A Ciência do Bom Viver, pág. 478.

Gostamos da primeira parte de Hebreus 11, o capítulo da fé, mas temos dificuldade com a parte final. Contudo, essa última parte continua lá. Tem-na lido ultimamente? Após os luminosos relatos do livramento que Deus operou em favor de Seu povo em várias situações críticas, prossegue falando de "outros". Nunca se esqueça dos outros!

Versos 35-39: "Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra. Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa." (Ênfase acrescentada).

As promessas espirituais – de perdão do pecado, do Espírito Santo, de poder para realizar o trabalho dEle – sempre estão disponíveis. Mas as promessas de bênçãos temporais, mesmo para a própria vida, são concedidas em certas ocasiões e retiradas noutras, segundo Deus julgue melhor em Sua providência. Está disposto a contar-se entre os "outros" se Deus o chamar a unir-se a eles no mais profundo teste de fé?