ARREPENDIMENTO

ARREPENDIMENTO - TEMA 1

Arrependimento é tristeza pelo pecado e afastamento dos pecados. Arrependimento é um dom. Portanto, tristeza pelo pecado é um dom, e afastamento dos pecados é um dom.
Cedo, em meu ministério, achei-me numa situação muito desconfortável. Não era convertido, e não sabia como tornar-me convertido. Não era salvo, e não sabia como ficar salvo. E o ministério evangélico é o lugar mais desconfortável do mundo para um inconverso e não salvo estar!

Chegou o verão. Aproximava-se o tempo de reuniões campais. Como um jovem ministro, um de meus deveres era ajudar a armar tendas no local das campais durante a semana que antecedia às reuniões. Os ministros encarregados dessa tarefa conseguiam armar a primeira fileira de tendas, para terem onde ficar e então necessitavam de um descanso! Não estávamos acostumados com esse tipo de exercício! Enquanto descansávamos um pouco entre as fileiras de tendas, víamo-nos envolvidos com toda sorte de discussões teológicas. Conversávamos sobre qual seria o local onde a Batalha do Armagedom se desenrolaria, ou se as asas dos anjos teriam penas reais ou não! Percebi minha oportunidade.

Aproximando-me de um dos pastores mais velhos, perguntei: "O que diz para alguém que pergunte como pode ser salvo?" (Essa parecia uma maneira segura de expressá-lo).

Ele respondeu: "Digo-lhes para se arrepender."

"E se perguntar como se arrepender?"

"Bem, arrependimento é estar triste pelos seus pecados e afastar-se deles."

"Certo, mas como a gente se afasta dos pecados?"

"Ora, você se arrepende!"

Minha reação foi: "Espere um momento. Você está dizendo que a maneira de desviar-se de seus pecados é afastar-se dos seus pecados, e a forma de se arrepender é arrepender-se?"

"Isso mesmo", respondeu sorrindo, obviamente satisfeito com minha clara percepção do assunto.

A definição clássica para arrependimento, encontrada no livro Caminho a Cristo, pág. 23 emprega precisamente estas palavras. "O arrependimento compreende tristeza pelo pecado e afastamento do mesmo." A verdade que eu havia perdido de vista sobre o arrependimento, porém, é que arrependimento é um dom. Não é algo que realizamos; é algo que recebemos. Isto estabelece toda a diferença.

Atos 5:31 nos diz que arrependimento é um dom de Deus.

Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 353 diz claramente: "Arrependimento, bem como o perdão, é dom de Deus mediante Cristo." Assim, qualquer arrependimento que tentemos operar por nossos meios, qualquer arrependimento que seja autogerado, fatalmente ficará aquém do genuíno fato. Podemos ser capazes de entristecer-nos pelas conseqüências de nossas más ações. Podemos lamentar os resultados de nossa vida de pecado. Mas a menos que recebamos o arrependimento que é um dom de Deus, seremos incapazes de ir além disso.

Tristeza pelo pecado, tristeza por ter vivido separadamente de Deus, somente pode proceder do próprio Deus. Não podemos fazer-nos tristes. A genuína tristeza pelo pecado é um dom.

E afastar-se dos pecados é também um dom. Não nos afastamos dos pecados a fim de nos arrepender. Vamos a Jesus a fim de nos arrepender! E Romanos 2:4 diz que é a bondade que nos leva ao arrependimento. Reconhecemos mais plenamente a malignidade do pecado quando reconhecemos mais plenamente o amor de Jesus. Ao estudarmos a vida de Jesus, ao contemplarmos o Seu sacrifício por nós na cruz, nossos corações são quebrantados, e experimentamos genuíno arrependimento. O pecado não mais parece atraente. Quando nossos corações são mudados, nossas ações são mudadas, e recebemos o dom do arrependimento de que não se precisa arrepender. Nossa parte é somente, como sempre, ir a Ele.



ARREPENDIMENTO - TEMA 2

Não transformamos nossa vida a fim de ir a Cristo. Vamos a Ele tal como estamos, e Ele transforma nossa vida.

Certo dia uma enfermeira parou no meu escritório. Ela disse: ''Estou enfastiada da minha vida. Sei que preciso de Deus, e gostaria de ir a Ele. Poderia, por favor, ajudar-me?''

Bem, este é exatamente o tipo de oportunidade com que qualquer pregador se emociona. Assim, eu disse: "Logicamente! Tudo quanto precisa fazer é ir a Ele em oração e pedir-Lhe que perdoe os seus pecados e assuma o controle de sua vida. Poderá fazê-lo agora mesmo."

''Não", respondeu ela. "Espere um instante. Tenho planos para este fim de semana." E passou a contar-me seus planos. Ela iria deixar a cidade com o marido de outra mulher. Desejava ir a Cristo, mas não pretendia modificar seus planos para o final de semana. E era quinta-feira à noite.

Eu lhe disse: "Você pode ir a Cristo tal como está. Não precisa alterar seus planos para o fim de semana a fim de ir a Cristo. Você pode ir a Ele tal como está, e Ele lidará com os seus planos."

Sua reação foi: ''Não pode realmente crer no que diz!''

Agora, permita-me perguntar: Quem estava certo? Teria ela que mudar seus planos para o fim de semana antes de poder ir a Cristo? Ou Ele a aceitaria com os seus planos para o fim de semana? Como pensa que seria?

Jeremias 3:13 declara: "Tão-somente reconhece a tua iniquidade, reconhece que transgrediste contra o Senhor teu Deus''. Bem, essa jovem enfermeira tinha ido até este ponto. Ela admitia que seus planos para o fim de semana eram errados. Mas ainda não estava disposta a renunciá-los.

Como se manifesta o arrependimento? Vamos a Cristo a fim de arrepender-nos, ou nos arrependemos a fim de ir a Cristo? Na área do arrependimento, muitas vezes nos encontramos no lugar do homem cuja buzina do carro não funciona Assim, ele foi até a oficina providenciar o conserto, e na porta da garagem havia um cartaz que dizia: "Buzine para se atendido."

O capítulo sobre arrependimento em Caminho a Cristo revela a saída desse aparente dilema. Declara o seguinte:

''Exatamente aqui está o ponto em que muitos erram, sendo por isso privados de receber o auxílio que Cristo lhes desejava conceder. Pensam que não podem chegar a Cristo sem primeiro arrepender-se e que é o arrependimento que os prepara para o perdão de seus pecados. É certo que o arrependimento precede o perdão dos pecados, pois unicamente o coração quebrantado e contrito é que sente a necessidade de um Salvador. Mas terá o pecador de esperar até que se tenha arrependido, antes de poder chegar-se a Jesus? Deve fazer-se do arrependimento um obstáculo entre o pecador e o Salvador?" – Pág. 26.

A resposta para esta pergunta aparece na mesma página:

"Assim como não podemos alcançar perdão sem Cristo, também não podemos arrepender-nos sem que o Espírito de Cristo nos desperte a consciência." Arrependimento não é algo que façamos; é um dom. A fim de receber um dom, precisamos primeiro comparecer à presença do Doador.

Assim, se você é uma jovem enfermeira numa quinta-feira à noite, ansiosa por algo melhor em sua existência, mas incapaz de modificar seus planos para o fim de semana, você pode ir a Cristo tal como está. Jamais será capaz de modificar sua vida de pecado à parte dEle. Quando, porém, for a Ele, receberá dEle arrependimento, perdão e graça para vencer, operando em você aquilo que é agradável à Sua vista. Sua parte é continuar a ir a Ele, continuar a aceitar os dons que Ele tem para oferecer.



ARREPENDIMENTO - TEMA 3

Deus dá o arrependimento antes de dar o perdão.
Consideremos por alguns minutos onde o arrependimento se enquadra na seqüência de ir a Cristo. Já observamos antes que o primeiro passo na direção de Cristo é o desejo de algo melhor. Segundo, obtemos o conhecimento do que é melhor. Terceiro, estarmos convencidos de nossa condição pecaminosa, e, quarto, reconhecermos que somos impotentes para nos salvar a nós mesmos. É aí que desistimos, ou nos submetemos e vamos a Cristo.

Deus não espera que nos arrependamos antes de ir a Cristo; na verdade, seria impossível que o fizéssemos. Primeiro, vamos a Cristo; e, depois, Ele nos concede o arrependimento.

"Os judeus ensinavam que o pecador devia arrepender-se antes de lhe ser oferecido o amor de Deus. A seu parecer, o arrependimento é obra pela qual os homens ganham o favor do Céu. Foi esse pensamento que induziu os fariseus atônitos e irados a exclamarem: "Este recebe pecadores." Luc. 15:2. Conforme sua suposição, não devia permitir que pessoa alguma a Ele se achegasse sem se ter arrependido. Mas na parábola da ovelha perdida, Cristo ensina que a salvação não é alcançada por procurarmos a Deus, mas porque Deus nos procura. "Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram." Rom. 3:11 e 12. Não nos arrependemos para que Deus nos ame, porém Ele nos revela Seu amor para que nos arrependamos." – Parábolas de Jesus, pág. 189.

Assim, após irmos a Cristo, chegamos a reconhecer o mortífero caráter do pecado ao contemplar Seu amor por nós, e então nos tornamos dispostos a aceitar o Seu dom de arrependimento.

Arrependimento não é algo que nós fazemos, embora seja algo que fazemos! O arrependimento não é obra nossa; é a obra de Deus por nós. Mas esta vem antes do perdão. E se o arrependimento precede o perdão, então precede também a justificação. "Aquele a quem Cristo perdoa, faz Ele primeiro penitente. " – O Maior Discurso de Cristo, pág. 7.

Atos 2:38 deixa claro que o arrependimento deve ter lugar antes do perdão. "Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados."

Às vezes as pessoas questionam o valor de tornar-se tão meticulosos em tentar isolar e alistar na ordem cada evento do ir a Cristo para salvação. Certamente não é como se tivesse uma lista para ir conferindo cada item ao progredir, e saber o que fazer em seguida! Mas o inimigo de Deus e do homem tem um firme suprimento de mal-entendidos pelo caminho. E tais coisas podem formar uma barreira entre nós e Deus. Se pensarmos que devemos operar a justificação pela fé, a submissão, o arrependimento, a obediência, ou quaisquer outros dons que Deus está querendo conceder-nos gratuitamente, podemos deixar de ir a Ele. E ir a Ele é a única maneira de recebermos os Seus dons.

Muitos desses aspectos isolados, de ir a Cristo – arrependimento, novo nascimento, perdão e justificação – ocorrem quase simultaneamente. O propósito de separá-los é discuti-los, de modo a que possamos definir claramente qual é nossa obra e qual é a obra de Deus, o que é causa e o que é resultado.



A bondade de Deus nos conduz ao arrependimento, segundo Romanos 2:4. Não podemos trabalhar no arrependimento, mas podemos decidir ler Sua Palavra ou ouvir o pregador vivo onde a bondade de Deus é destacada. Não podemos operar o arrependimento, mas podemos ir a Ele. Não podemos produzir o genuíno sofrimento pelo pecado; não podemos afastar-nos do pecado em nossa própria força. Mas podemos buscar o Senhor para que realize essas coisas por nós. Deus Se deleita em ajudar aqueles que não podem ajudar-se a si mesmos.





ARREPENDIMENTO - TEMA 4

A tristeza humana é a que sentimos por haver quebrado uma lei e sermos apanhados. A tristeza de origem divina é a que experimentamos por ter quebrantado um coração e ferido nosso melhor Amigo.
Você já dirigiu a mais de 80 por hora? Já foi detido na estrada e recebeu uma multa por excesso de velocidade? Ficou triste com isso? Por que razão se entristeceu? Triste por ter sido apanhado? Ou triste por ter dirigido muito rápido?

Já lhe disseram para dizer "sinto muito"? Todos já observamos uma criança que fez algo errado e não se sente nem um pouco triste? Então a mãe ou o pai se aproxima e instrui: "Agora diga que sente muito." E a criança abaixa a cabeça, arrasta os pés no chão e parece totalmente desambientada. Finalmente resmunga: "Desculpe". E seu responsável não mais se incomoda com o assunto. Mas a criança está realmente sentida? Bem, ela está sentida por ter que dizer que estava sentida!

A Bíblia fala de dois tipos de "tristeza". "Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte." II Coríntios 7:10. Assim, existe a tristeza segundo Deus, e há tristeza segundo o mundo. A de um tipo é uma questão de relacionamento; a outra, é limitada a comportamento. A de um tipo transforma sua vida; a do outro tipo, transforma somente seus atos – e só temporariamente. Um tipo é essencial; o outro tipo, não vale um centavo.

Judas teve tristeza segundo o mundo. Entristeceu-se por ter sido apanhado. Esperou até o último minuto para certificar-se de que realmente tinha posto tudo a perder. Mas quando, finalmente, tornou-se evidente que Jesus não ia soltar-Se e que os sacerdotes e príncipes iriam condená-Lo, Judas mostrou-se arrependido. Em S. Mateus 27:3 é dito que estava "tocado de remorso".

É típico da tristeza segundo o mundo que ela espera até ser apanhada com a "mão na massa". Uma coisa é "arrepender-se" após ter sido demonstrada sua culpa; outra, bem diferente, é arrepender-se mesmo antes que tenha sido acusado.

Outro exemplo bíblico do tipo errado de tristeza é o caso de Caim. Ele, também, esperou até o último instante e então tentou até mesmo refutar a Deus: "Irmão? Que irmão? Ah, o Abel? Quer dizer que esperava que eu o guardasse?''

A tristeza segundo Deus, por outro lado, tem natureza inteiramente diversa. É entristecer-nos por ter ferido alguém a quem amamos.

O Desejado de Todas as Nações, pág. 300 apresenta-o do seguinte modo: "Entristecemo-nos muitas vezes, porque nossas más ações nos trazem desagradáveis conseqüências; mas isso não é arrependimento. A verdadeira tristeza pelo pecado é o resultado da operação do Espírito Santo. Este revela a ingratidão da alma que menosprezou e ofendeu o Salvador, levando-nos contritos ao pé da cruz. Por todo pecado é Jesus novamente ferido; e ao olharmos Àquele a quem traspassamos, choramos as transgressões que Lhe trouxeram angústia. Tal pranto levará à renúncia do pecado.''

Isto nos leva a outra razão poderosa por que o arrependimento tem que brotar como resultado de ir a Cristo. Não podemos entristecer-nos de ter ferido a alguém que amamos se não amamos essa pessoa! Lembra-se de quando era pequeno, e fazia algum tipo de malvadeza àquele garoto terrível da casa ao lado? E era de se esperar que sentisse por isso?

Ao crescer, aprendemos (espero) um pouco sobre o amor abrangente pela humanidade, de modo que nossa bondade se estende além do círculo de nossos amigos imediatos. Mas é ainda verdade que quanto mais você ama a alguém, mais o seu coração se despedaça quando fere tal indivíduo.

Quando aprendermos a conhecer a Jesus e a confiar no amor que Ele tem por nós, descobriremos que estamos verdadeiramente tristes quando Lhe causamos tristeza. Este é o tipo de arrependimento traduzido em tristeza segundo Deus, "que a ninguém traz pesar".